Segundo as
estatísticas no estado do Amapá, é possível ver uma criança com apenas onze
anos de idade dando a luz à outra criança, que já nasce em um lar sem
organização familiar, além disso, outras crianças tornam-se dependentes
químicas ainda quando crianças com até menos de oito anos de idade.
Muito se tem
feito para ressocialização dessas crianças, casas de abrigos, internação em
unidades de recuperação e várias outras medidas socioeducativas, mas é preciso
usar de outras ferramentas que mexam com o lado emocional destes menores.
No Quilombo do
Curiaú através de pesquisa realizada na comunidade escolar no ano de 2012,
verificou-se que entre as alunas adolescentes, entre 12 e 15 anos, três já são
mães, há também adolescentes e jovens da comunidade que já terminaram o ensino
fundamental e, por não haver escola de nível médio no local, ficam com mais
tempo na ociosidade, mas que ainda contribuem nas atividades extracurrilar da
escola.
Desta forma, é
necessária uma ação voltada para estes menores, dando-lhes a oportunidade de
serem inseridos no mercado de trabalho, e, principalmente de serem reconhecidos
pela sociedade de uma forma positiva, como cidadãos.
Segundo o
Estatuto da Igualdade Racial em seu art. 2º versa que:
“É dever do Estado e da sociedade, garantir a
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, em
independente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na
comunidade, especialmente nas atividades politicas, econômicas, empresariais,
educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores
religiosos e culturais”.
A música é uma
ferramenta que mexe com o emocional, autoestima e molda o comportamento
daqueles que a usam de forma adequada. Com isso, a AECE através de pesquisas e
realização de eventos musicais educacionais percebeu uma lacuna na área educacional
da música, pois a musicalidade do Quilombo do Curiaú é imensurável, mas há a
necessidade de sistematizar o conhecimento de forma pedagógica.
Verificou-se que
através do ensino da música que é possível, com grande margem de acerto,
ressocializar crianças e adolescentes em risco social. Um bom exemplo a ser
seguido é o projeto venezuelano “El Sistema” que há 35 anos vem mudando a
história daquele país através do ensino da música nos locais de maior
concentração de marginalidade, sendo considerado “o milagre venezuelano”.
(Revista Veja ed. 2122/ 2009).
O
projeto com todos os resultados atingidos se tornou uma política de estado e
uma politica privada também e, que serve de modelo para muitos países do mundo
desenvolvido, bem como, para alguns estados brasileiros como:
“O Sistema também exporta sua
valiosa experiência de ensino – realiza intercâmbios com dois projetos
similares no Brasil: o Neojibá, na Bahia, e o Instituto Baccarelli, que mantém
uma orquestra jovem na favela de Heliópolis, em São Paulo. Projetos de música
erudita para comunidades carentes inspirados no Sistema estão sendo implantados
na Escócia e em três cidades americanas – Nova York, Los Angeles e Chicago. É
realmente uma fórmula que merece ser copiada. Não será exagero dizer que, em
alguns casos, o Sistema salva vidas”. (Revista Veja ed. 2122/ 2009).
De certo,
foram necessários mais de 35 anos de luta, altos e baixos, para a consagração
do que é hoje “El Sistema”. Com o mesmo ideal de luta, perseverança e afinco
para o bem coletivo a Associação Educacional e Cultural Essência – AECE busca
levar este conhecimento a crianças e adolescentes.
Conforme
Priscila Paglisa e Marlete eschraffrathe como parte do projeto de educação
pública reservada aos brasileiros, o canto orfeônico foi introduzido como
disciplina obrigatória no currículo das escolas em 1931 durante o governo de
Getúlio Vargas (1930 – 1945), com o objetivo de forjar no povo brasileiro
espírito nacionalista, patriota e ordeiro.
O ensino de canto orfeônico baseava-se no tripé: disciplina, civismo e
educação artística.
Hoje,
neste ano de 2012, sabe-se que é data limite para que todas as escolas públicas
e privadas do Brasil incluam o ensino da música em suas grades curriculares,
tanto como disciplina como dentro de outra. A exigência surgiu com a lei nº
11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, que determina que a música seja
conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica.
"O
objetivo não é formar músicos, mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade
e a integração dos alunos", diz a professora Clélia Craveiro, conselheira
da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação). Desta
forma, a AECE também vem mostrando que seu objetivo maior não é a formação de
músico profissional, mas sim a formação de cidadãos capazes e socializados.
No
Quilombo do Curiaú a inserção e continuação deste projeto fazem-se necessários,
visto que, é visível o saber, a essência e a forte cultura musical, que está
intrinsecamente ligada, sendo que a cada dia torna-se ainda mais forte com o
cotidiano que perfaz o batuque, o marabaixo e a ladainha, fortalecendo a dança
e a música.
A
inserção da música de forma pedagógica no cotidiano de crianças e adolescentes é
elemento auxiliador no processo de aprendizagem da escrita e da leitura criando
o gosto pelos estudos, desenvolvendo a coordenação motora – o ritmo, auxiliando
na formação de conceitos, no desenvolvimento da autoestima e na interação com o
outro.
Assim,
verifica-se que o trabalho com a música, através deste projeto visa ensinar a
música de forma pedagógica com proposta que vai além do aspecto motivador,
visto que abre espaço para uma diversidade de acesso, oportunidade e
conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento pleno da criança e do
adolescente.
Além
disso, consoante ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu
art. 4º e 58, verifica-se a importância da cultura para a completa cidadania da
criança e do adolescente que são seres em peculiar estado de desenvolvimento em
formação, visto que a cultura está intrinsicamente ligada à formação
social.
Com isso, verifica-se a
importância deste projeto no Quilombo do Curiaú, que objetiva ensinar a música
para as crianças, adolescentes e jovens de escolas públicas ou em risco social
de maneira que todos possam ter acesso contínuo.
Desta
forma, o projeto propõe o ensino da música como ferramenta de inclusão social, disponibilizando
o acesso à educação e a cultura para crianças e adolescentes do Quilombo do
Curiaú e de outras comunidades, visto que a própria escola local atende
crianças e adolescentes de comunidades vizinhas.
"A música, eu a considero, em princípio, como um indispensável alimento da alma humana. Por conseguinte, um elemento e fator imprescindível à educação da juventude." (Villa-Lobos)
ResponderExcluirEle era o responsável pela inserção do canto na era Vargas, grande maestro e compositor também se preocupava com a inserção da cultura popular e folclórica. Acredito que ficaria muito feliz em ver o trabalho realizado no Amapá hoje.